A nova pesquisa Genial/Quaest mostra que a recuperação da popularidade de Lula, iniciada em julho após o tarifaço de Donald Trump, não avançou em setembro.
O cenário é de estabilidade: 51% desaprovam e 46% aprovam o governo, mantendo os mesmos índices da rodada anterior. Esse resultado indica que a tendência de melhora observada nos últimos meses perdeu ritmo, mesmo com o potencial impacto do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Avaliação do governo: entre estabilidade e desafios
A avaliação geral do governo Lula reflete o mesmo quadro de estabilidade. Entre os entrevistados, 31% classificam a gestão como positiva, 28% como regular e 38% como negativa. O equilíbrio entre avaliações positivas e negativas reforça a percepção de um cenário cristalizado, no qual a base de apoio ao presidente permanece consistente, mas sem capacidade de expandir significativamente.

Apesar do quadro estável, há motivos de comemoração. Programas sociais seguem altamente aprovados, como o recém-lançado Gás do Povo, já conhecido e bem avaliado por 67% dos brasileiros.

Por outro lado, cresce a percepção de que os programas sociais passaram a ser vistos como direitos consolidados e não mais como benefícios que demandam ações do governo. Isso reduz o potencial de ganho eleitoral para o governo.

Notícias e mercado de trabalho: pontos de alívio
Entre maio e setembro, subiu de 19% para 27% o percentual de brasileiros que dizem ter recebido notícias positivas sobre o governo. No mesmo período, caiu de 52% para 45% o impacto de notícias negativas. Essa mudança na percepção da cobertura midiática representa um alívio para o Planalto, já que reduz o desgaste imediato da imagem presidencial.

Outro dado favorável está relacionado ao mercado de trabalho. Pela primeira vez em oito meses, aumentou o número de brasileiros que percebem melhora na oferta de empregos. Hoje, 41% afirmam que está mais fácil conseguir trabalho do que há um ano, contra 49% que consideram a situação mais difícil. Essa inflexão pode ser interpretada como um sinal de confiança moderada na recuperação econômica, ainda que insuficiente para alterar de forma expressiva a avaliação geral do governo.

Inflação de alimentos continua sendo obstáculo
Se há sinais de melhora na percepção sobre o emprego, a economia ainda pesa contra o governo. Além disso, quando perguntados espontaneamente sobre as notícias negativas mais lembradas, dois temas apareceram com destaque: a crise no INSS e o aumento da inflação.

De um lado, os problemas na previdência afetam diretamente milhões de brasileiros, com impacto concreto na vida cotidiana. De outro, a pressão dos preços no dia a dia segue no centro das preocupações: 61% dos entrevistados afirmam que os alimentos continuam mais caros nos mercados. Essa percepção ajuda a explicar por que a recuperação da popularidade de Lula, observada nos meses anteriores, perdeu fôlego em setembro. O custo de vida permanece como um dos determinantes mais fortes da avaliação negativa do governo, especialmente entre as camadas mais vulneráveis da população.

Política externa: aprovação, mas impacto limitado
Na arena internacional, Lula ainda colhe ganhos de imagem. Sua postura diante do tarifaço imposto pelos Estados Unidos é aprovada por 64% dos brasileiros, enquanto 53% apoiam a aproximação do Brasil com os países que compõem os BRICS. Esses índices demonstram respaldo popular à política externa do governo, especialmente quando relacionada à defesa da soberania nacional.

No entanto, o efeito político dessa agenda parece ter atingido um limite. Mesmo com quase metade dos brasileiros (49%) avaliando que Lula tem se saído melhor do que Bolsonaro no embate com os norte-americanos, sua popularidade não avançou.

Direção do país e perda de conexão
Apesar das vitórias pontuais, a percepção sobre o rumo do Brasil continua negativa. Para 58% da população, o país segue na direção errada, contra apenas 36% que acreditam que está no caminho certo. Essa visão pessimista indica que, mesmo com certa recuperação de confiança em áreas específicas, o sentimento predominante é de desconfiança quanto ao futuro.

Outro desafio importante para Lula é a percepção de que ele perdeu sua conexão histórica com o povo. Segundo a pesquisa, 61% dos brasileiros acreditam que o presidente já não mantém a proximidade que marcou sua trajetória política. Esse distanciamento, se consolidado, pode comprometer um dos principais ativos simbólicos do petista, tradicionalmente reconhecido como o “pai dos pobres”.

Julgamento de Bolsonaro fortalece o STF
Enquanto Lula enfrenta limites claros para recuperar sua popularidade, o ex-presidente Jair Bolsonaro aparece ainda mais fragilizado. A pesquisa mostra que 55% dos brasileiros acreditam que houve tentativa de golpe no país, e 54% consideram que Bolsonaro participou do plano. Esses índices reforçam a consolidação de uma narrativa negativa para o ex-presidente e ampliam sua vulnerabilidade política.


O julgamento no STF também contribuiu para melhorar a percepção sobre a Corte. A parcela da população que acredita que o processo foi conduzido de forma imparcial cresceu de 36% para 42%, enquanto diminuiu de 52% para 47% a visão de que houve perseguição política.

Nesse contexto, o ministro Alexandre de Moraes saiu fortalecido. Hoje, 52% dos brasileiros rejeitam a possibilidade de seu impeachment, contra 43% em agosto. A mudança indica que, em meio ao desgaste tanto do governo quanto da oposição, o Supremo Tribunal Federal conquistou maior respaldo da opinião pública.

Metodologia
A pesquisa ouviu 2.004 brasileiros em entrevistas presenciais entre os dias 12 e 14 de setembro de 2025. O levantamento tem margem de erro máxima de 2 pontos percentuais e nível de confiança de 95%.


