COP30: Conflitos na agenda ambiental interna aumentam as críticas nas redes.

Por Marina Siqueira | Diretora de Sustentabilidade e Riscos
Publicado em 28 de outubro de 2025

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A COP30 em Belém do Pará se aproxima! O evento marca um ponto decisivo da agenda global sobre mudanças no clima, transição energética e governança socioambiental. Pela primeira vez sediada na Amazônia, a conferência projeta o Brasil no centro do debate internacional, como referência simbólica e diplomática, mas também sob um crescente escrutínio sobre a coerência entre discurso e prática ambiental.

Atenta a essa dinâmica, a Quaest realiza o monitoramento contínuo da opinião pública digital sobre a COP30, por meio de sua metodologia de Social Listening Digital, que capta e analisa menções em múltiplas plataformas. Entre 15 e 21 de outubro, o quarto relatório da série registrou uma retração no engajamento e uma mudança expressiva no tom das conversas, com crescimento do ceticismo e da cobrança pública sobre a agenda ambiental interna brasileira.

Engajamento em queda e o debate mais ácido

O volume de 105 mil menções e 46 mil autores únicos representou uma redução em relação à semana anterior, com média de 15 mil postagens por dia e alcance estimado em 1,2 milhão de visualizações por hora.

Embora os números continuem expressivos, o tom das conversas mudou: o sentimento negativo cresceu de 28% para 31%, enquanto o positivo recuou de 26% para 22%, e as menções neutras e informativas permaneceram estáveis em 47%.

Essa inversão interrompe a escalada de sentimentos positivos observada nas últimas semanas e traz mais expectativas e mais críticas às incoerências sobre a agenda climática.

A aproximação do evento intensificou críticas sobre contradições entre a política ambiental e a agenda econômica, especialmente após a autorização para pesquisa para exploração de petróleo na Margem Equatorial da Amazônia, decisão que gerou o maior pico de menções da semana.

Contradições e simbolismos da agenda ambiental brasileira

O debate nacional foi impulsionado por temas controversos, que ampliaram a percepção de conflito entre avanços diplomáticos e retrocesso ambiental.

Entre os assuntos mais comentados estiveram:

  • A autorização do Ibama para a Petrobras pesquisar petróleo na Foz do Amazonas;
  • A votação dos vetos presidenciais da Lei Geral do Licenciamento Ambiental, chamada pelos críticos de “PL da Devastação”;
  • As obras finais e eventos pré-COP30, com presença de figuras como Rei Charles, Anitta e Cacique Raoni;
  • E críticas sobre custos e possíveis irregularidades nos contratos do evento.

Apesar do aumento das menções negativas, eventos culturais e diplomáticos ajudaram a sustentar o engajamento positivo.

As referências à participação de lideranças indígenas e às ações de justiça climática continuam entre os focos de maior apoio, consolidando uma narrativa que associa a COP30 a valores éticos e civilizatórios.

Quatro eixos centrais do debate pré-COP30

O monitoramento desta semana aprofundou a análise em quatro temas estruturantes da agenda da COP30, todos com forte presença nas discussões públicas e com tendência de ganhar centralidade nas negociações oficiais: transição energética, biodiversidade, gases de efeito estufa e financiamento climático.

Esses temas sintetizam o campo de tensões que marcará o evento em Belém, o equilíbrio entre crescimento econômico e descarbonização, preservação ambiental e uso sustentável da Amazônia, responsabilidade climática e capacidade técnica de implementação.

Os quatro grandes temas analisados no monitoramento da Quaest sinalizam as tensões estruturais que antecedem a COP30.  Com mais detalhamento a seguir, enquanto a transição energética e os combustíveis fósseis expõem contradições, a biodiversidade e o financiamento climático despertam esperança e mobilização positiva.

Transição energética: o tema mais quente do pré-COP30

A transição energética consolidou-se como o tema mais debatido e polarizado do monitoramento, com 112 mil menções acumuladas desde julho e 133 milhões de alcance.

A discussão foi impulsionada pela decisão do Ibama de autorizar a Petrobras a perfurar na Margem Equatorial na foz do Amazonas para pesquisa de viabilidade de exploração, episódio que reconfigurou o tom do debate e elevou o ceticismo nas redes.

As menções negativas (33%) apontam para incoerência entre a pauta ambiental e a prática econômica, questionando o papel do Brasil como anfitrião de uma conferência climática ao mesmo tempo em que busca ampliar a exploração de petróleo. Perfis de ambientalistas, jornalistas e pesquisadores destacam que a decisão pode comprometer a credibilidade do país no debate sobre descarbonização.

Já as menções positivas (36%) ressaltam o papel estratégico do Brasil na transição energética, com investimentos crescentes em biocombustíveis, energia eólica, solar e produção de minerais estratégicos para produção de baterias e equipamentos elétricos. As menções neutras (30%) concentram conteúdos jornalísticos e técnicos que discutem modelos de transição gradual e metas até 2030 e  2050.

Em síntese, o tema reflete uma disputa narrativa sobre o modelo de desenvolvimento que o Brasil pretende defender na COP30: um país que explora seus recursos fósseis como ponte para o futuro ou que assume a liderança imediata da transição energética global.

Biodiversidade: a Amazônia no centro da atenção pública

A biodiversidade aparece como o segundo tema mais relevante do debate digital, somando 50 mil menções e 48 milhões de alcance.

O tema ganhou impulso com campanhas sobre a preservação da Amazônia, o lançamento do mascote Curupira, e o protagonismo de lideranças indígenas e ambientais nas redes. No entanto, a discussão não se restringe somente à Amazônia, mas ao conjunto dos biomas brasileiros.

As menções negativas (24%) se concentram em críticas à fragilidade das políticas de conservação e à pressão por flexibilização ambiental no Congresso Nacional. Há também preocupação com a ameaça de retrocessos legislativos e o impacto das mudanças climáticas sobre a biodiversidade brasileira.

As menções positivas (19%) destacam o engajamento da sociedade civil e a valorização da floresta como ativo estratégico global, com mensagens de apoio à participação de povos originários e organizações ambientais na conferência. Entre os conteúdos mais compartilhados, destacam-se postagens que relacionam a COP30 à proteção da Amazônia como patrimônio da humanidade e à necessidade de um novo modelo de desenvolvimento sustentável para os biomas brasileiros.

Observa-se nas postagens que a biodiversidade atua como símbolo moral e político da COP30, conectando a imagem do evento a uma narrativa de pertencimento, justiça e preservação.

Gases de Efeito Estufa: foco técnico e cobrança internacional

As conversas sobre emissões de gases de efeito estufa (GEE) somaram 25 mil menções, com ênfase em dados técnicos, indicadores e compromissos internacionais. O alcance desse tema nas redes, no período analisado, foi de 15 milhões de pessoas nas redes.

Embora o volume seja inferior aos demais temas, trata-se de uma pauta qualitativamente sofisticada, mobilizando especialistas, jornalistas ambientais e organismos multilaterais.

As menções positivas (11%) referem-se ao monitoramento científico das emissões e ao cumprimento gradual das metas do Acordo de Paris, destacando o avanço de políticas de controle e relatórios técnicos de organismos internacionais. Já as menções negativas (18%) refletem descrença no alcance das metas até 2030, a denúncias de greenwashing e críticas à lentidão de grandes emissores em reduzir seus índices, especialmente nos setores de energia, transporte e agropecuária.

O tema reforça o caráter técnico da COP30 como espaço de mensuração e cobrança global, um sinal de que o sucesso do evento será medido não apenas por discursos, mas por indicadores concretos de mitigação e adaptação.

Financiamento Climático: otimismo e cooperação internacional

O financiamento climático mantém uma tendência predominantemente positiva, impulsionada por iniciativas multilaterais e anúncios de aportes financeiros. Foram registradas 18 mil menções, com 65% de sentimento positivo, o mais alto entre os quatro eixos temáticos analisados.

Os destaques positivos do período (31%) foram as discussões sobre o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e as propostas do BRICS para a criação de um fundo trilionário de financiamento climático, ambos percebidos como instrumentos de cooperação solidária entre países do Sul Global. Entre os conteúdos mais compartilhados, estão postagens que celebram a liderança brasileira nas negociações financeiras internacionais e a importância de novos mecanismos de compensação ambiental.

As menções negativas (12%) sobressaem críticas às desigualdades econômicas que dificultam o avanço do financiamento climático e à ausência dos Estados Unidos em acordos multilaterais, apontada como sinal de fragilidade na cooperação global para o enfrentamento das mudanças climáticas.

Esse eixo expressa uma dimensão pragmática, técnica e cooperativa da COP30: a busca por mecanismos financeiros sustentáveis, capazes de transformar metas climáticas em ações tangíveis.

Do entusiasmo à cobrança pública

A interrupção do crescimento do sentimento positivo, estimulada pelos acontecimentos recentes na agenda ambiental brasileira, mostra que, nos últimos dias, o público passou a avaliar a coerência entre o discurso climático e as práticas políticas, em vez de reagir apenas a símbolos, anúncios e gestos diplomáticos.

As críticas recentes, motivadas, sobretudo, por decisões como a autorização para exploração de petróleo na Margem Equatorial, reforçou uma vigilância crescente sobre o compromisso ambiental do país. Ainda assim, essa mudança de tom não representa desinteresse,  pelo contrário, sinaliza uma reação mais madura e crítica do debate público, que acompanha de perto os desdobramentos da preparação para a conferência.

O monitoramento da Quaest demonstra que foi interrompida a tendência de crescimento do sentimento positivo em relação à COP30 que observávamos nas últimas semanas. Ambientalistas, técnicos, acadêmicos e parte da sociedade proferiram severas críticas sobre as contradições entre os objetivos do evento e a agenda ambiental interna. Dois episódios tiveram destaque nesse contexto: o voto ao veto presidencial à Lei Geral do Licenciamento Ambiental e a autorização concedida pelo Ibama para que a Petrobras avance nas pesquisas de exploração de petróleo na Foz do Amazonas – Marina Siqueira, Diretora de Sustentabilidade e Riscos.

Já nas análises temáticas qualificadas sobre quatro eixos centrais da COP30, transição energética, biodiversidade, gases de efeito estufa e financiamento climático, observa-se a seguinte dinâmica: a transição energética concentra as principais controvérsias e críticas, biodiversidade e financiamento climático sustentam o campo de maior engajamento positivo, e as conversas sobre emissões de gases de efeito estufa reforçam o caráter técnico e não popular da discussão.

Essas tendências sugerem que o debate digital pré-COP30 entrou em uma nova fase de escrutínio e sofisticação discursiva. As menções deixam de ser impulsionadas apenas por acontecimentos isolados e passam a refletir interpretações estruturadas sobre políticas públicas, diplomacia climática e credibilidade institucional.

Metodologia

Entre 15 a 21 de outubro de 2025, a Quaest realizou o segundo monitoramento de opinião pública digital sobre a COP30, utilizando sua metodologia proprietária de Social Listening, uma tecnologia que identifica, classifica e analisa menções nas principais redes sociais e veículos de notícias on-line, no Brasil e no exterior. Essa abordagem permite mensurar a temperatura e o tom do debate público, revelando tendências, percepções e padrões de engajamento que ajudam a compreender como a conferência vem sendo discutida e interpretada na esfera digital.

O estudo foi conduzido pelas Diretorias de Sustentabilidade e Riscos e de Processamento, da Quaest e marca o início de uma série de monitoramentos semanais que acompanharão a evolução das narrativas, temas e atores em torno da COP30 até a realização do evento.

📊 Acesse o relatório completo aqui.

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