Lei Geral do Licenciamento Ambiental: o debate nas redes sociais

Por Marina Siqueira | Diretora de Sustentabilidade e Riscos
Publicado em 8 de agosto de 2025

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Após mais de duas décadas de tramitação no Congresso, a Lei Geral do Licenciamento Ambiental (PL 2.159/2021) foi sancionada hoje pelo presidente Lula, com 63 vetos. A decisão marca uma nova fase desse longo e intenso processo legislativo e já movimenta um debate polarizado nas redes sociais.

A Quaest acompanhou a opinião pública em etapas cruciais, a aprovação no Senado, em 21 de maio; e na Câmara dos Deputados, em 17 de julho, identificando narrativas em conflito e um sentimento majoritariamente negativo, que se intensificou à medida que o projeto avançava. Agora, seguimos monitorando a repercussão e as discussões geradas pela sanção.

O que é a Lei Geral do Licenciamento Ambiental

Originalmente proposta em 2004, a lei busca modernizar e unificar as regras para o licenciamento ambiental no Brasil. Sua aprovação foi justificada por seus defensores como uma medida essencial para combater a burocracia e destravar projetos e empreendimentos de desenvolvimento do país.

A proposta cria diferentes modalidades de licenciamento, estabelece prazos para análise e, em alguns casos, dispensa a necessidade de licença, permitindo até mesmo o autolicenciamento por meio do preenchimento de um formulário.

No entanto, o projeto gerou forte oposição por parte de ambientalistas, especialistas e lideranças públicas, que o apelidaram de “PL da Devastação”. A crítica central é que a lei flexibiliza demais as regras ambientais, podendo aumentar os riscos de desastres, o desmatamento em áreas sensíveis e negligencia a participação das comunidades, sobretudo as comunidades tradicionais.

Lei Geral do Licenciamento Ambiental

A repercussão digital em duas etapas

O monitoramento da Quaest demonstra como o debate nas redes sociais evoluiu e ganhou força durante a tramitação e aprovação da Lei Geral do Licenciamento Ambiental nos momentos de aprovação no Senado Federal e na Câmara dos Deputados.

A aprovação da Lei Geral do licenciamento Ambiental no Senado e a repercussão nas redes

Na etapa do Senado, o debate já mostrava uma clara divisão, mas ainda com uma parcela significativa de menções neutras, indicando um processo de informação por parte da imprensa e veículos de notícias.

Big numbers: foram 84 mil menções ao tema durante o período analisado, com pico no dia 22 com quase 15 mil menções, gerando um alcance médio diário de 58 milhões de pessoas.

Sentimento geral: o sentimento era predominantemente negativo (49%), com 12% de menções positivas e 39% de neutras.

Narrativas em conflito: de um lado, a narrativa dos defensores, que chamavam o PL de “destrava Brasil”, focava na redução da burocracia e na atração de investimentos. Do outro, a oposição, já usando o termo “PL da Devastação”, destacava os riscos de poluição, desmatamento e a possibilidade de novas tragédias ambientais como referências a casos como os de Mariana, Brumadinho e as enchentes no Rio Grande do Sul.

Celebridades, políticos, jornalistas e especialistas se posicionaram nas redes estimulados pela movimentação do tema no Senado. Neste momento, além do posicionamento houve a tendência de adotar um tom didático para explicar e mobilizar a população sobre o PL 2.159/2021, seja no campo dos favoráveis ou dos contrários. Podemos conferir abaixo o tom das postagens:

  • Posicionamento crítico buscando explicar e engajar a população: Anitta
  • Posicionamento positivo também com foco em explicar o PL: Senadora Tereza Cistina (PP)
  • Posicionamento neutro com ênfase informativa: BBC News Brasil

A aprovação da Lei Geral do Licenciamento Ambiental na Câmara dos Deputados e a repercussão nas redes

A aprovação do texto final ca Câmara dos Deputados marcou uma escalada no volume e na intensidade do debate.

Explosão no engajamento: as menções saltaram para 401 mil no período analisado, com um alcance diário estimado de 53 milhões. O pico de menções ocorreu no dia 17 de julho, data da aprovação, com 186.763 mil menções em apenas 24 horas.

A virada negativa: o sentimento negativo ganhou nas redes, saltando de 49% após aprovação do Senado para 75%. O sentimento neutro, por sua vez, caiu para apenas 11%, mostrando que a discussão deixou de ser apenas informativa para se tornar um confronto de narrativas.

Mobilização e estratégias: a oposição se articulou de forma mais eficaz. A palavra de ordem “PL da Devastação” se consolidou, e o chamado para que o presidente vetasse a lei se tornou a principal reivindicação. Além disso, a pauta foi associada a outros temas de interesse nacional, como o PIX e a disputa com os EUA, para tentar ampliar o alcance e o engajamento popular. O viés positivo foi observado nos nomes e veículos de comunicação mais associados aos setores produtivos, o qual comemoraram a aprovação, em um tom de otimismo sobre o desenvolvimento e crescimento do Brasil superando entraves regulatórios.

O volume massivo de menções nas redes demonstra a relevância do tema ambiental na agenda pública brasileira, impulsionada em 2025 por discussões recorrentes sobre mudanças climáticas, desastres ambientais e a preparação para a COP30.

Após a aprovação no Congresso Nacional, o tom das discussões se tornou ainda mais polarizado. De um lado, os críticos manifestaram indignação, denúncia e um forte apelo por mobilização. De outro, os apoiadores celebraram o resultado como uma vitória, expressando comemoração e entusiasmo com a nova legislação.

  • Posicionamento crítico buscando engajar a população: Anitta
  • Posicionamento positivo com foco em rebater críticas e comemorar o resultado: Deputado Federal Kim Kataguiri
  • Posicionamento neutro com ênfase informativa: g1

A Lei Geral do Licenciamento Ambiental aprovada sob forte pressão digital

A análise da Quaest mostra que a Lei Geral do Licenciamento Ambiental foi aprovada no Congresso Nacional em um cenário de forte desaprovação nas redes sociais. A narrativa da oposição, baseada em argumentos de risco ambiental e na memória de tragédias recentes, dominou o debate e se mostrou mais eficaz em mobilizar a opinião pública. Enquanto os defensores tentavam emplacar a mensagem de modernização e desenvolvimento, a maioria do debate se concentrou em criticar o projeto, revelando uma profunda lacuna entre o processo legislativo e a percepção da sociedade no ambiente digital.

As nuvens de palavras abaixo extraída das menções analisadas em cada período ilustram esse contexto:

O gráfico de menções sobre a Lei Geral do Licenciamento Ambiental demonstra a escalada da mobilização social em torno do tema. A comparação das curvas de menção nos dois momentos cruciais da aprovação no Congresso revela um crescimento exponencial no engajamento e na polarização do debate.

A aprovação no Senado, em maio, gerou um pico de quase 15 mil menções diretas no dia seguinte da votação. Esse número foi altamente superado pela aprovação na Câmara dos Deputados, em julho, que registrou um volume de 186.763 mil.

Em ambos os momentos, a discussão nas redes atingiu uma audiência massiva, com o alcance estimado superando a marca de 50 milhões de usuários por dia. Essa evolução no volume de menções não apenas quantifica a alta repercussão do tema, mas também ilustra a transformação do debate em um movimento de mobilização social mais amplo e intenso.

Essa mobilização culminou em um embate de expectativas em relação à sanção ou veto presidencial. Após a aprovação no Congresso Nacional e o encaminhamento para sanção ou veto presidencial, de um lado, a maioria da discussão nas redes clamava por um veto do Presidente da República, um reflexo do sentimento de desaprovação predominante. Do outro, os setores de interesse defendiam o respeito à decisão do Congresso Nacional, pressionando pela sanção da nova lei.

No dia 08 de agosto, Lula sancionou, porém com 63 vetos.

Metodologia

A Quaest utilizou a metodologia de Social Listening Digital (SLD), que emprega tecnologias para a coleta de menções em plataformas como X, Instagram, Facebook, YouTube, LinkedIn, TikTok, BlueSky, Threads, entre outras e sites de notícias. A análise se baseia em três pilares: o volume total de menções, a taxa de crescimento do tópico e a relevância do evento gerador para o mercado e a sociedade.

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