A nova rodada da pesquisa Quaest em parceria com a Genial Investimentos mostra um aumento expressivo na desaprovação ao governo Lula, que passou de 49% em janeiro para 56% em março. No mesmo período, a aprovação caiu de 47% para 41%. Os dados indicam que os recentes esforços de comunicação e o anúncio de novas medidas ainda não conseguiram reverter a tendência de queda na popularidade do presidente.

Aprovação cai em todas as regiões do país
A queda na aprovação é observada de forma generalizada em todas as regiões do país. No Nordeste, tradicional reduto eleitoral de Lula, a vantagem da aprovação sobre a desaprovação, que era de 35 pontos percentuais em dezembro de 2024, caiu para apenas 6 pontos em março.
No Sudeste e Sul, a diferença entre desaprovação e aprovação chega a 23 e 30 pontos, respectivamente, um sinal claro da deterioração do apoio ao governo em regiões-chave

Eleitorado feminino e baixa renda também ampliam rejeição
Entre o eleitorado feminino, a desaprovação ao governo Lula superou, pela primeira vez, a aprovação: 53% contra 43%. Esse dado é particularmente relevante, considerando que as mulheres tiveram papel decisivo na vitória eleitoral de 2022. Entre os homens, a desaprovação é ainda maior, atingindo 59%.

Quando se observa o recorte por renda, a aprovação ao governo Lula é de apenas 34% entre quem recebe mais de cinco salários mínimos e 36% entre os que ganham de dois a cinco. Mesmo entre os que têm renda familiar de até dois salários mínimos, grupo onde Lula tradicionalmente teve maior apoio, a aprovação caiu para 52%, com uma vantagem de apenas 7 pontos percentuais sobre a desaprovação. Em julho de 2024, essa vantagem era de 43 pontos.

Desaprovação atinge até parte dos eleitores de Lula
A rejeição também cresce entre os eleitores que votaram em Lula em 2022: 26% deles agora desaprovam o governo. Entre os que votaram branco, nulo ou se abstiveram, a desaprovação chega a 62%, e entre os que votaram em Bolsonaro, alcança 92%.

Quebra de confiança agrava a desaprovação ao governo Lula
A piora na popularidade do presidente também está ligada a uma quebra de confiança por parte do eleitorado. A percepção de que Lula não tem conseguido cumprir suas promessas de campanha se amplia, assim como o número de brasileiros que deixam de enxergar o presidente como uma figura bem-intencionada.

Além disso, diferentemente do que acontecia em gestões anteriores, o aumento da exposição pública de Lula, por meio de entrevistas, eventos e aparições, não tem surtido o efeito esperado. Ao contrário: metade dos entrevistados acreditam que essa presença constante tem prejudicado ainda mais a imagem do presidente.

Comunicação ineficaz e aumento das notícias negativas
O ambiente de informação também contribui para o cenário desfavorável. A pesquisa mostra que 47% da população afirma ter visto mais notícias negativas do que positivas sobre o governo federal. Apenas 23% relatam o contrário.

Percepção da economia e perda do poder de compra
Outro fator determinante para o aumento da desaprovação ao governo Lula é a piora na percepção da economia. O percentual de brasileiros que acredita que a economia piorou no último ano subiu de 39% em janeiro para 56% em março.

Essa visão negativa é reforçada pela sensação generalizada de alta nos preços. De acordo com o levantamento, 88% dos entrevistados perceberam aumento no valor dos alimentos nos supermercados no último mês.

Já os combustíveis foram apontados como mais caros por 70% da população.

Com isso, 81% dos brasileiros afirmam que o poder de compra de suas famílias é menor do que há um ano. Essa percepção econômica ajuda a explicar por que medidas pontuais do governo ainda não se traduzem em melhora na avaliação presidencial.

Programas sociais perdem força como ferramenta de popularidade
Mesmo com 67% da população reconhecendo que algum programa do governo impacta positivamente sua vida, com destaque para o Bolsa Família, essa percepção não se converte em aumento na aprovação.

Isso acontece porque, para a maioria, esses programas sociais são vistos como direitos adquiridos e permanentes, independentemente de quem esteja no poder. Esse fenômeno tem sido chamado de “extinção da gratidão automática”, e indica que os benefícios entregues não geram, necessariamente, fidelidade política.

Novas medidas geram expectativas, mas ainda sem impacto real
Diante do cenário desfavorável, o governo Lula apostou em duas medidas concretas nos últimos meses para tentar reverter a tendência de alta rejeição. A primeira foi a extinção da taxação sobre alimentos importados, com o objetivo de conter o aumento nos preços. No entanto, a medida ainda é pouco conhecida e divide opiniões: entre os que desaprovam o governo, apenas 37% acreditam que ele ajudará a reduzir os preços dos alimentos.

A segunda aposta é a chamada reforma da renda. Cerca de 26% dos brasileiros esperam ser beneficiados, totalizando mais de 46 milhões de pessoas.

Entre os que acreditam que serão isentos, metade espera uma melhora significativa na renda familiar. Já entre os que esperam um benefício parcial, 35% também apostam em melhora significativa.

Outro ponto da proposta que tem boa aceitação popular é a tributação adicional de 10% sobre grandes dividendos. Quase 60% dos entrevistados disseram concordar com a medida, mostrando que há espaço para uma narrativa de justiça fiscal.

Expectativa positiva não reverte desaprovação ao governo Lula
Apesar dessas medidas, os dados indicam que o governo ainda não conseguiu alterar a trajetória da desaprovação ao governo Lula, que hoje é de 56%. A criação de expectativa positiva parece não ser suficiente para conter a frustração, de parte do eleitorado, que se mostra desconectado das ações do Executivo. A avaliação é de que o governo Lula 3 ainda não conseguiu reconquistar a confiança e a credibilidade perdidas no início deste ano.
Ao contrário do que se imaginava, a alta desaprovação registrada em janeiro não foi um ponto fora da curva, ela se manteve e se aprofundou em março. O desafio agora é retomar o protagonismo, melhorar a percepção da economia e, principalmente, convencer a população de que o Brasil está no rumo certo.

Metodologia
A pesquisa foi realizada entre os dias 27 e 31 de março de 2025, com 2.004 pessoas. O levantamento tem margem de erro de 2 pontos percentuais e nível de confiança de 95%.